domingo, 14 de agosto de 2011

O sétimo continente, de Michael Haneke

A câmera fria, do primeiro filme para grande tela de Haneke - ele já tinha uma trajetória consolidada como diretor de filmes para TV. Uma história partida em três momentos.

Primeiro momento, 1987. Família de classe média austríaca vive uma vida comum. Seus pequenos problemas, sua pequena rotina, tudo parece se encaminhar bem. A esposa relata isso aos sogros numa carta.

Tanto poderia ser qualquer família, que nos primeiros 10, 15 minutos, os rostos não são mostrados.

Há um grande aquário com belos peixes.

A filha do casal, na escola, finge cegueira. É já um sinal de que há algo que não caminha tão bem, na rotina desta gente.

Segundo momento, 1988. Mesma estrutura, com pequenas variações. O amor que se faz, a pequena satisfação mostrada friamente, sem graça.

O homem da casa tem promoção na empresa. Ainda assim, vão ao mesmo lava-rápido visto na primeira cena e que será visto outras vezes. Imersos naquele pequeno universo, dentro daquele carro, há uma angústia inexplicável da esposa, que segura a mão da filha no banco de trás e chora. Nada que o marido possa consertar.

Novamente, a carta aos sogros traz boas novas.

1989. Uma carta, desta vez é o pai de família que se dirige a seus pais. Relata que a criança não tem medo da morte. Relata, também, um plano que não parece muito claro mas, sim, está relacionado a uma atitude radical.

Ele pede demissão.

O casal retira todo o dinheiro que têm no banco. Lá mesmo, anunciam: partirão à Austrália, o sétimo continente.

A viagem é outra, seu sétimo continente é outro. Devo poupar a quem não conhece o filme o horror do que há por ver.

No fim, apenas o ruído de uma televisão que não está sintonizada.


É, também, o primeiro filme de uma "trilogia da era glacial", que engloba "O Vídeo de Benny" e "71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso".

Haneke se baseou em fatos brutais. Tão brutais ou mais do que no seu quarto filme, o registro de 1997, Funny Games.

Quem entra no jogo (leia-se, propõe-se a assistir a estes filmes) precisa saber que será testemunha de algo injustificável.

Não se tratam de filmes que pessoas mais sensíveis deveriam assistir.